sexta-feira, 23 de julho de 2010

Vamos fugir para Goiás?






Quando eu era criança,
isso já faz muito tempo
morava no interior de Minas,
meu contentamento.

Ouvia sempre dizer,
quando fulano quebrava,
não tinha dinheiro mais,
devia a todos e sem saída,
fugia para Goiás.

Ele queria resolver seu problema,
ele fugia de seu problema.
Naquele tempo, longe da carta constitucional de 1988
polícia cobrava, às vezes prendia e até batia por dívidas,
assim, em Goiás escondido, ele estaria totalmente protegido.

Não existia o Tocantins,
Brasília estava em seu início,
Goiás, com  aquele território imenso,
e cheio de mato, era o lugar ideal
para se esconder o gaiato.

Era tempo do faroeste,
brincávamos de bandido e mocinho,
tínhamos nossas cavernas secretas
no meio do mato, aventura, brincadeiras,
nosso regato.

Fique bem claro,
o faroeste era na televisão tão somente,
pois na vida real, para mim
homem com revólver na cintura
tinha chegado "aos finalmente",
pois no Brasil havia chegado a cultura.

Fui crescendo e aprendendo que
homem com cultura não briga, conversa.
Não mata, dialoga, prende e se não der
chama a polícia.

Ledo engano meu, pois o tempo foi passando
e a cada dia fui mais me assustando.
Quanto mais escolas, faculdade, ensino superior
terceiro grau, seja lá o que for,
mais violência vejo ao meu redor.

Gente morrendo nos semáfaros,
Gente morrendo nas praças,
Crianças e mulheres sendo arrastadas por bandidos.
qualquer pequeno motivo, é motivo para matar!

Mães sofrendo, aí me emociono:
mães sofrendo por perderem sua jóia maior,
jóia lapidada desde a concepção, ou talvez até antes,
no seu pensamento, no seu desejo, no seu querer.
Cada dia uma preocupação, cólicas quando bebê,
trocar a frauda, primeiros passos, falar, comer, estudar,
crescer. É a lapidação do dia-a-dia, é o amor de mãe
se manifestando em cada ato, e de repente!!!

Perder o filho aos 15 anos por uma bala perdida, não é fácil,
perder aos  18 anos sendo assassinado na porta de uma
"boite" pior ainda: "bandido, bandido, assassino,
você matou meu filho!!" grita a mãe,
é triste, é triste, é triste!!

Voltamos ao faroeste,
pessoas andando armadas como se fosse normal,
adolescentes sendo apreendidos com armas de fogo
indo para os estádios de futebol.
"esquadrões da morte" eliminando inocentes,
inocentes que apenas queriam se divertir
torcer para seu time.
Gangues brigando nas praças das pequenas cidades,
cheirando à álcool, drogas, sem repressão,
sem controle!

Posso sair da minha casa? Caminhar? À noite então?
Posso sentar com os vizinhos na frente da minha casa?
Sair de carro tranquilo com os vidros abertos?
Andar na rua sem ter que olhar para trás,
e ver quem está vindo, algum movimento suspeito?

Ohh Deus, onde vamos parar...
Será  que a exigência de especialização, mestrado,
doutorado para conseguir um emprego é a evolução
do mundo moderno ou a formação do mundo marginal?
Caminhamos ou retrocedemos?

Quando famílias inteiras vivem com seu mísero
salário mínimo, pagando as dívidas do mês anterior,
sobrando trinta reais para passar vinte dias,
vemos deputados esbravejando na tribuna,
por perderem suas mordomias de passagens aéreas.

Quando o INSS nega aposentadoria a muitos
que não comprovam o tempo de contribuição
por falta de prova material, recibos e tudo mais,
e famílias passam fome, dentre outras coisas mais,
vemos as fraudes previdenciárias em todos os jornais.
Quando não é o estelionatário é o político,
é o grande empresário e assim,
a miséria da população aumenta cada vez mais.

Num círculo vicioso, mais pobreza,
mais fome, mais miséria, mais violência,
e no meio dos privilegiados:
menos pudor, menos caráter,
mais egoismo, mais ganância.

Sinceramente, as vezes, não vejo
saída e voltando ao passado,
como o mundo parece voltar,
eu penso e me dá vontade de:
fugir para Goiás!!


Autor: Edson José Tavares 
Publicado em 02/05/2009 no site: http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/1571362



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